Quando a estudante do curso de História da Universidade do Vale do Taquari - Univates Luélen Knecht e seu professor orientador, Mateus Dalmáz, começaram a investigar as matérias veiculadas no jornal O Informativo do Vale para entender como a mulher lajeadense era representada na década de 1970 após a inauguração da BR-386, eles levantaram uma hipótese que não demorou muito tempo para se fragmentar. Inicialmente, ambos partiram da ideia de que a figura feminina retratada pelo veículo de comunicação se enquadrava em um estereótipo clássico: o de esposa, mãe e dona de casa.
Conforme a pesquisa foi se desenvolvendo, Luélen e Dalmáz ficaram surpresos ao constatar que, mesmo circulando em um contexto mais conservador, o jornal já reproduzia discursos e narrativas que desafiavam a representação da mulher apenas como objeto de beleza, desejo e submissão. Os indícios de empoderamento e resistência feminina que despontaram nas páginas de O Informativo do Vale ajudaram a reivindicar espaços de poder e autonomia para as figuras que eram subjugadas pela sociedade na época.
Metodologia e resultados
Divulgação/Jornal O Informativo do Vale
Uma das reportagens veiculadas pelo Jornal O Informativo do Vale.
Para elaborar seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Luélen realizou uma pesquisa qualitativa a partir da análise investigativa de matérias veiculadas no jornal O Informativo do Vale nos anos de 1970, 1975 e 1980. Além disso, a agora diplomada também fez uma revisão bibliográfica e um levantamento de dados com base nas informações das reportagens.
Dalmáz explica por que ele e sua orientanda decidiram focar o estudo na década de 1970, que sucedeu um acontecimento regional histórico. Precisávamos escolher um período de tempo que tivesse sido relevante para Lajeado. Entendemos que a inauguração da BR-386 foi um marco importante para a cidade, pois representou o início de um processo de urbanização e desenvolvimento econômico.
Quanto às fontes de pesquisa consultadas, o professor comenta que, inicialmente, ele e Luélen haviam pensado em analisar processos-crime para identificar casos que envolvessem mulheres e, a partir deles, interpretar atividades da esfera pública protagonizadas por figuras femininas. Depois, a dupla optou por estudar um veículo de comunicação, já que discutir o papel desempenhado pela imprensa em determinados contextos também é função dos historiadores.
Ao falar sobre a conclusão à qual a pesquisa chegou, Dalmáz destaca as mudanças que ocorreram ao longo da década de 1970.
Pesquisa ajudou diplomada a compreender o passado e a melhorar o presente
Luélen comenta que realizar um estudo sobre a evolução das experiências e identidades das mulheres em um contexto específico lhe trouxe inúmeros aprendizados. Um deles está relacionado à importância de analisar um assunto por meio de uma abordagem multidisciplinar. O tema da minha monografia não é exclusivo da História, ele também dialoga com áreas como a Comunicação e a Economia justamente porque trata da questão de todo o crescimento econômico e urbano decorrente da inauguração da BR-386, enfatiza.
Divulgação/Jornal O Informativo do Vale
Uma das reportagens veiculadas pelo Jornal O Informativo do Vale.
A historiadora acrescenta que, no decorrer do processo de pesquisa, ela também entendeu a real necessidade de saber ler entrelinhas, identificar visões ideológicas e contextos históricos e aprofundar as análises para obter uma melhor compreensão do passado. Os registros jornalísticos forneceram insights valiosos sobre como era a sociedade na década de 1970, diz.
Luélen conclui que, de modo geral, a pesquisa a ajudou a compreender o passado e a melhorar o presente.