O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e a temática tem sido pautada em diferentes frentes, como A Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030, que foi declarada pela Organização das Nações Unidas em 2020. Em consonância ao envelhecimento populacional, há o processo de feminização da velhice (predominância de mulheres na população idosa), sendo necessária a compreensão das especificidades do envelhecimento nesse público.
Um estudo recente conduzido pela estudante de Fisioterapia da Universidade do Vale do Taquari - Univates Pâmela Braga Mallmann buscou aprofundar o entendimento sobre as percepções de mulheres adultas em relação ao processo de envelhecimento, focando nas dimensões mudanças corporais, sexualidade e funcionalidade. Com uma abordagem de método misto, o estudo contou com a participação de 336 mulheres brasileiras com mais de 18 anos, que responderam a um questionário on-line elaborado pela pesquisadora.
O principal objetivo da pesquisa era analisar a correlação entre variáveis sociodemográficas e as dimensões do envelhecimento mencionadas. Os resultados revelaram diferenças significativas na forma como essas dimensões se relacionam com a faixa etária, o número de filhos, a renda, a escolaridade e o estado civil das participantes.
Eu quis muito desenvolver um estudo voltado para as mulheres, porque elas são parte de um grupo vulnerável, que é estigmatizado e oprimido, que sofre imposições sociais que ditam o seu dever, seu comportamento ideal, como é um corpo bonito e qual é o ideal da beleza. Em contrapartida, essas mulheres vulneráveis foram protagonistas da sua história e alcançaram inúmeros direitos e avanços. Diante disso, ao longo da graduação e da minha trajetória pessoal, percebi que essas questões repercutem na saúde física e mental das mulheres e precisam ser pautadas, detalha Pâmela. Muitas mulheres ocuparam o espaço da pesquisa para desabafar sobre a temática e fizeram relatos muito potentes e interessantes, que merecem a nossa atenção.
Ainda, acredito que seja uma perspectiva interessante evidenciar que o fisioterapeuta, enquanto profissional da saúde, pode e deve ter um olhar integral para o sujeito, e que a sua atuação não está limitada ao contexto de reabilitação funcional, explica a estudante.
Uma das constatações mais impactantes do estudo foi a diversidade de percepções sobre o envelhecimento feminino. As análises qualitativas demonstraram que o processo de envelhecimento é singular para cada mulher, não havendo um padrão único de percepção. O estudo também enfatiza a influência de fatores como grau de instrução, maternidade, saúde física, saúde mental e hábitos de vida na forma como as mulheres encaram o envelhecimento. Por exemplo, a maternidade pode fazer com que as mulheres se percebam mais dependentes ao realizar atividades do cotidiano. Por outro lado, o grau de instrução está diretamente relacionado à sensação de independência das mulheres.
Outra descoberta importante é que a funcionalidade não está estritamente ligada à idade, mas sim a fatores relacionados à saúde física e mental. Além disso, a pesquisa ressalta o impacto da renda na percepção do envelhecimento, evidenciando que mulheres com diferentes níveis de renda tendem a vivenciar o processo de envelhecimento de maneiras distintas.
Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de desconstruir o estigma de que o envelhecimento está associado ao declínio da eficiência humana com repercussões negativas. Pelo contrário, o estudo enfatiza que o envelhecimento é uma experiência multifacetada, influenciada por diversos fatores externos e pela trajetória de vida de cada mulher.
No meu ponto de vista, o trabalho evidencia fatores que por vezes são desconsiderados quando se olha para a saúde da mulher e o processo de envelhecimento em específico. Além disso, o alto número de respondentes sugere que esse assunto precisa ser mais discutido e que as mulheres querem falar sobre isso, descreve Pâmela.
O estudo se destaca por trazer à tona a importância de entender o envelhecimento sob a perspectiva das mulheres, respeitando suas singularidades, experiências pessoais e as mudanças no papel social da mulher ao longo dos anos. A reflexão sobre o envelhecimento saudável e positivo é fundamental para quebrar preconceitos e estereótipos associados ao processo de envelhecer, promovendo uma visão mais ampla e inclusiva da mulher na sociedade.
A banca avaliadora do trabalho foi composta pela professora orientadora Lydia Koetz Jaeger, pela professora Giovana Sinigaglia e pela professora Fernanda Storck Pinheiro. Além disso, também estava presente o professor Cândido Norberto Bronzoni de Mattos, que foi coorientador da pesquisa.