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Conflito entre Israel e Palestina em 2023: um mês de ataques na Faixa de Gaza. Por que continuam? E a ONU?

Por Redação Univates

Postado em 07/11/2023 12:32:44


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O grupo islâmico armado Hamas surpreendeu Israel em 7 de outubro com um ataque surpresa que se destacou como um dos mais significativos sofridos pelo país nos últimos anos. Ao reivindicar essa ofensiva, o Hamas anunciou o início de uma operação com o objetivo de recuperar o território. Desde então, a fase mais aguda do conflito deixou milhares de mortos, entre civis e militares, e milhões de pessoas desalojadas. 

Neste texto, você encontra detalhes sobre os acontecimentos atuais ‒ que completam hoje, 7 de novembro, o primeiro mês ‒, configurando-se como um dos mais desafiadores e duradouros na geopolítica contemporânea. Além disso, por que o conflito continua? Qual é o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) neste cenário?  

Um mês de ataques na Faixa de Gaza. Por que continuam? E a ONU?

Por Mateus Dalmáz, doutor em História, professor dos cursos de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Univates

Passado um mês do conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, vale questionar: por que fracassaram as tentativas de cessar-fogo durante esse período? E, diante disso, o que o conflito revela sobre o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) nas relações internacionais?

Convém recordar que, desde o início das hostilidades entre Israel e Hamas, a comunidade internacional externou preocupação com a vida de palestinos e israelenses e defendeu um cessar-fogo em nome dos direitos humanos. Embora essa fosse a retórica de lideranças dos Estados que são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, como EUA, Inglaterra, França, Rússia e China, os documentos lá apresentados para viabilizar uma paralisação dos ataques militares na região foram recusados. Por quê? A resposta a essa questão muito tem a ver com o interesse geopolítico dos Estados direta e indiretamente envolvidos no 

Lucas George Wendt

Para Israel, o contra-ataque violento visando a desmantelar o Hamas tem um triplo objetivo: primeiro, o de atender a uma demanda do público interno, que cobrou do governo de Benjamin Netanyahu uma resposta às ações terroristas do Hamas; segundo, o de mobilizar forças políticas domésticas para apoiar o primeiro-ministro israelense, que vinha sofrendo críticas e perdendo aliados até então; e terceiro, o de demonstrar força perante os Estados islâmicos e os grupos extremistas do Oriente Médio, historicamente contrários à existência do Estado de Israel no território palestino. 

Para os EUA, duas são as razões para apoiar o contra-ataque israelense: a primeira é a aliança estratégica com Israel, que desde os anos 1960 vem sendo parceiro de Washington para dissuadir países islâmicos de maximizarem poder regional e interferirem no regime do petróleo; e a segunda é a tentativa de Joe Biden mostrar para o eleitorado americano que é capaz de sustentar uma política externa de afirmação de superpotência, como Donald Trump e os republicanos defendem. A solidez da parceria entre EUA e Israel fez com que os estadunidenses recusassem os documentos favoráveis a um cessar-fogo apresentados no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da ONU. Para os americanos, importa culpabilizar o Hamas pelo terrorismo praticado em 7 de outubro e reconhecer o direito de Israel atacar a Faixa de Gaza. 

Áreas atacadas em Israel e em Gaza em 7 de outubro

Áreas atacadas em Israel e em Gaza em 7 de outubro

Pierre Markuse - Com dados do Sentinel - Wikimedia Commons

As propostas para um cessar-fogo também têm esbarrado na posição da Rússia, um país histórica e estrategicamente antagonista dos EUA. Para os russos, um documento que estipule uma pausa nas hostilidades só será aceito se o Estado de Israel também for responsabilizado pela violência contra os direitos humanos na Faixa de Gaza. Ao tomar tal posição, a Rússia contempla o interesse de seu aliado no Oriente Médio, o Irã, país que converge com o posicionamento do Hamas, do Jihad Islâmico, do Hezbollah libanês e dos Houthis do Iêmen (os grupos que anunciaram participação nos ataques aos israelenses) a respeito da criação do Estado palestino sem a existência de Israel.    

O impasse no Conselho de Segurança da ONU desperta o questionamento a respeito do papel que as Nações Unidas cumprem nas relações internacionais. Afinal, qual o grau de interferência de uma instituição supranacional nos rumos da política internacional? O conflito na Faixa de Gaza demonstra que o interesse dos Estados e dos grupos radicais vem falando mais alto do que as decisões multilaterais que a ONU poderia promover. O prosseguimento das hostilidades está muito ligado aos objetivos geopolíticos de EUA e Israel, aliados para dissuadir Estados islâmicos no Oriente Médio, e também da Rússia, antagonista de americanos e israelenses na região. Também tem a ver com a intenção do Hamas e de seus aliados em congelar o diálogo de Israel com Arábia Saudita, Bahrein e Jordânia, a respeito do reconhecimento por parte dos islâmicos da legitimidade do território israelense, e de frear a aproximação entre Irã e Arábia Saudita, que vinha sendo costurada pela China, algo que poderia dissuadir Teerã de apoiar abertamente atos terroristas anti-israelenses. 

O caminho para um cessar-fogo, passado um mês dos ataques, parece estar longe dos assentos da ONU e próximo de tomadas de decisão de líderes de EUA e Israel, à medida que a repulsa à violência na Faixa de Gaza vem aumentando nas sociedades civis ocidentais a cada imagem de mortos e feridos que circula pelas mídias interativas e de massa. Netanyahu e Biden apostaram no contra-ataque violento, entre outros fatores, como forma de captar apoio de seus respectivos eleitorados. Embora o apoio de israelenses à reação de Tel Aviv siga pujante, a simpatia de estadunidenses ao prolongamento dos ataques vem diminuindo. E isso pode provocar acenos de Biden para uma paralisação das hostilidades, enquanto corredores humanitários rumo ao Egito são criados na região. Com Biden abraçando a causa dos direitos humanos, a posição israelense se fragilizaria. Enquanto isso não acontece, seguem as mortes na Faixa de Gaza.    

O conteúdo e as opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade de seu autor. 

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