O professor e pesquisador na Universidade do Vale do Taquari - Univates André Jasper embarcou, no último dia 23 de novembro, em uma missão científica à Antártica como parte de projetos de pesquisa que ele integra. Confira o relato na sequência.
Partida e primeiras impressões
Depois de 30 anos, no dia 23 de novembro iniciei o meu retorno ao continente gelado. Partindo de Pelotas, um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) (com o Embraer KC-390) levou pesquisadores e pessoal de apoio para a cidade de Punta Arenas, no Chile. De imediato fomos embarcados nos navios de apoio oceanográfico brasileiros (NApOC Ary Rongel (H-44) e Almirante Maximiano (H-41).
Nosso grupo de acampamento foi embarcado no Ary que, apesar de um pouco menor, é mais rápido do que o Max. A partir daí, foram 3 dias de espera no Porto para que as condições da passagem de Drake (Estreito de Drake) estivessem adequadas para nossa partida.
Finalmente, ao final do dia 26/11/23 zarpamos e navegamos (ainda) nas águas calmas dos canais chilenos. Logo após o almoço do dia 27/11 iniciamos a travessia e, devo dizer, não é uma experiência muito agradável, pois enjoo bastante. Foram dois dias de travessia e chegamos à enseada Martel (baía do Almirantado) onde fica a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) na madrugada do dia 29/11.
Uma vez fundeados, as coisas ficaram mais tranquilas e os procedimentos de desembarque de materiais para a Estação Antártica Comandante Ferraz (ECAF) foram realizados pelo pessoal da Marinha do Brasil, responsável por toda a parte logística do PROANTAR e das OPERANTAR (estamos na OPERANTAR 42).
Enquanto isso, nós realizamos algumas discussões sobre as condições de aproximação da Ilha James Ross, local em que ficaremos acampados para a coleta de fósseis. Este ano, devido à intensidade do degelo na Antártica, o mar de Weddell está com bastante gelo fragmentado e, dependendo do vento, ele pode se acumular no flanco leste da península Antártica. Isso dificulta muito a aproximação do navio para o nosso lançamento.
Os boletins mais recentes mostram que um vento de sul deve acumular gelo na área a partir da (05/12), o que nos fez pensar seriamente em uma opção B para sermos lançados. Vamos ver como isso evolui. Por enquanto, estamos fundeados na baía do Almirantado, aguardando os próximos boletins meteorológicos.
Em 04/12 tivemos a oportunidade de conhecer a nova ECAF. Destruída por um trágico incêndio em 2012, ela foi reinaugura em 2020 e é considerada uma das mais modernas estações antárticas já construídas.
Baía do Almirantado/Antártica, 6 de dezembro de 2023
André Jasper
Pesquisador do PPGAD/LPEB/MCN/PUnivates
Saiba mais
Jasper, que trabalha com os temas da Paleobotânica e Paleoambientes, lidera o Laboratório de Paleobotânica e Evolução de Biomas (LPEB) do Museu de Ciências (MCN) da Univates, e é vinculado aos cursos de Ciências Biológicas e ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD). Sua visita ao continente gelado tem com objetivo a coleta de fósseis visando o desenvolvimento de estudos que contribuirão para o avanço da ciência e também para aprimorar o entendimento sobre as paleofloras de Gondwana (grande continente que incluía a maior parte das zonas de terra firme que hoje constituem os continentes do Hemisfério Sul) e o impacto dos paleoincêndios vegetacionais no Cretáceo (145 milhões e 66 milhões de anos). O pesquisador já havia participado da OPERANTAR 12, há 30 anos, como bolsista de Iniciação Científica (IC). Hoje, retorna como pesquisador. As investigações que desenvolve na Univates estão vinculadas aos cursos de graduação em Ciências Biológicas, ao LPEB, ao MCN e ao PPGAD. Jasper também é integrante da equipe do projeto PALEOANTAR, sediado no Museu Nacional.
PROANTAR
O Programa Antártico Brasileiro busca promover a pesquisa científica diversificada e de alta qualidade na região antártica, com o intuito de compreender os fenômenos que ali ocorrem, que tenham repercussão global e, em particular, sobre o território brasileiro. Essas pesquisas também garantem ao País a condição de Membro Consultivo do Tratado da Antártica, que assegura a participação do Brasil nas decisões sobre ao futuro do continente antártico. Mais informações sobre o PROANTAR em https://proantar.com.br/maintence.
Anualmente, o PROANTAR apoia, em média, cerca de 20 projetos de pesquisa em diversas áreas como oceanografia, biologia, glaciologia, geologia, meteorologia, entre outras. Os projetos são selecionados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Entre esses projetos, está o PALEOANTAR, liderado pelo Museu Nacional e do qual Jasper faz parte.
Além dos Navios Ary Rongel e Almirante Maximiano, participam do planejamento, coordenação e execução das OPERANTAR, a Força Aérea Brasileira; os diversos Projetos de Pesquisa selecionados pelo CNPq; o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC); o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA); o Ministério das Relações Exteriores; as Estações de Apoio Antártico no Rio de Janeiro e em Rio Grande; e a Secretaria da Comissão Interministerial para os Recurso do Mar (SECIRM).