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Graduação

Pesquisa aborda vida e trabalho do fotógrafo Sebaldo Hammes em Lajeado

Por Lucas George Wendt

Postado em 05/04/2024 12:16:36


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José Sebald Hammes, conhecido como Sebaldo, foi um personagem na história de Lajeado - e do Vale do Taquari - que é lembrado por muitos, sendo reconhecido como um dos primeiros fotógrafos profissionais da região. Uma pesquisa realizada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Universidade do Vale do Taquari - Univates, no curso de Jornalismo, buscou celebrar a vida e a obra de Sebaldo a partir do trabalho indireto de documentar a vida na região do Vale do Taquari que o fotógrafo realizou enquanto atuava, com foco especial em sua produção fotográfica que retrata a vida social em Lajeado. 

Em um período em que a fotografia era um privilégio reservado a poucos, Sebaldo destacou-se por sua habilidade em capturar fragmentos da realidade social de Lajeado. Seu trabalho, ao longo de quase quatro décadas pela região, transcende o registro fotográfico, e se transforma em uma janela para o passado, onde a evolução da cidade e seus habitantes se desdobram diante dos olhos que contemplam o farto material fotográfico gerado por ele, algo em torno de 30 mil registros, entre fotos e negativos. 

Divulgação

Pietra e banca de avaliação, composta pela orientadora e pela fotógrafa Lidiane Mallmann

Pietra e banca de avaliação, composta pela orientadora e pela fotógrafa Lidiane Mallmann

A diplomada Pietra Darde é responsável por idealizar a pesquisa, cujo texto completo pode ser acessado aqui. Mesclando uma abordagem qualitativa robusta, o estudo se vale de métodos de pesquisa diversos para lançar luz sobre os detalhes das imagens. O estudo foi orientado pela jornalista, fotógrafa e professora Renata Lohmann. A pesquisa de TCC também é uma homenagem da diplomada ao trabalho do pai que, em conjunto com amigos, trata o acervo deixado por Sebaldo, buscando dar visibilidade às criações do fotógrafo por meio de uma página no Facebook.  

Como foi feito o estudo

A metodologia adotada, inspirada na análise iconográfica e iconológica de Boris Kossoy, um pesquisador importante da área da Fotografia no Brasil, visa decifrar o que é retratado nas fotografias objetivamente, mas também os significados subjacentes, os símbolos e os valores que permeiam cada imagem. Cinco fotografias selecionadas foram submetidas a esse escrutínio, em busca de pistas que conduzam a uma compreensão mais profunda da história social de Lajeado.

“Conheci a metodologia de Kossoy durante o levantamento de estudos para elaboração do estado da arte da minha pesquisa. Fiquei impressionada com a importância da contextualização para atribuir valor histórico a uma imagem. Isso despertou meu interesse, e decidi aplicar essa metodologia na minha própria pesquisa. Embora reconheça algumas limitações (como o esquecimento das pessoas, por exemplo), consegui desvendar muitas informações das imagens analisadas por meio desta metodologia. Inclusive consegui detalhes que estavam fora do enquadramento das imagens, enriquecendo ainda mais minha compreensão do contexto histórico e social que originou a foto no passado. Então a metodologia de Boris me ajudou muito na recuperação de informações”, conta Pietra. 

A jovem diz que a etapa da seleção das fotografias foi uma tarefa difícil. “Inspirada pela abordagem sugerida por Boris Kossoy, busquei fotos que incluíssem pelo menos uma pessoa identificável. Isso permitiu uma compreensão mais aprofundada do contexto histórico em que foram capturadas. Mesmo tendo acesso ao seu acervo físico, optei por selecionar imagens a partir da página do Facebook de Sebaldo, pois já haviam passado por algum filtro inicial. Observando cada publicação, me concentrei em escolher imagens nas quais as pessoas presentes haviam sido identificadas nos comentários e que ainda estavam vivas. Depois categorizei as imagens de acordo com uma variedade de temas de eventos, como eventos religiosos, escolares, carnavais de rua etc. A seleção final das cinco fotografias foi baseada em uma série de critérios, incluindo a identificação clara das pessoas retratadas, a relevância histórica das imagens, o interesse público, a qualidade técnica e o potencial para análise iconográfica e iconológica”. 

Quem foi Sebaldo 

Sebaldo faleceu em 2014, aos 85 anos. Nasceu em 1928, em Arroio do Meio. Na região do Vale do Taquari, fotografou entre 1966 e 2002, mas ostensivamente. Aos dezesseis anos, com o objetivo de tornar-se padre, ingressou no Seminário em Taquari. Mais tarde, aos 23 anos, mudou-se para o Seminário Daltro Filho, onde realizou o noviciado e estudou Filosofia. Em seguida, residiu em Divinópolis e depois em Muzambinho, em Minas Gerais, onde permaneceu por mais dois anos no Juvenato Franciscano. 

Durante o tempo em que esteve em Minas Gerais, adquiriu conhecimentos autodidatas em fotografia e revelação, além de ter estudado latim e grego. Também passou por Santos/SP. Retornou ao Rio Grande do Sul quando tinha por volta de 40 anos. Após sua volta, estimada em 1966, Sebaldo estabeleceu-se em Estrela e, por fim, em Lajeado, onde fixou sua moradia e inaugurou seu estúdio fotográfico, dando início à sua carreira como profissional na área da fotografia. O fotógrafo sempre manteve uma vida solitária. Não tinha cônjuge nem descendentes. Mas, nos seus últimos anos de vida, ele viveu em relativo anonimato, isolado em seu apartamento localizado no centro de Lajeado, passando por dificuldades financeiras e de saúde. 

Qual é a importância de sua obra 

Sebaldo deixou um extenso acervo. Suas fotos retratam a vida social da cidade, cenas de cotidianidade e momentos de exceção. São documentos. “Tive o privilégio de conhecer o Sebaldo ainda em vida. Eu era criança quando testemunhava ele andando de bicicleta pela cidade com a máquina pendurada no pescoço. Naquela época, eu não compreendia completamente a importância do que fazia. Foi somente após seu falecimento, em 2014, quando meu pai assumiu a responsabilidade de preservar e compartilhar suas memórias que desenvolvi tal compreensão”, relata a jovem. 

“Desde então, acompanhei de perto o trabalho de meu pai, resgatando e preservando cada imagem. Logo depois, em 2017, me tornei fotógrafa e iniciei meus estudos em Jornalismo. Foi então que percebi o impacto que ele teve na documentação da cidade onde nasci. Quando precisei decidir o tema do meu TCC, essa foi a primeira opção, já que desconhecia pesquisas científicas sobre sua vida e obra”, lembra Pietra. “Foi então que decidi pesquisar sobre algo que unisse a minha paixão pela fotografia e pelo jornalismo com a necessidade de reconhecer e valorizar o trabalho de Sebaldo, tão ignorado até então. Além disso, claramente o que me motivou a estudar a vida e a obra do Sebaldo também foi seguir os passos de meu pai”. 

“Acredito que o Sebaldo desempenhou um papel fundamental na história da fotografia em Lajeado. Ele foi um dos pioneiros na prática da fotografia profissional na região e deixou um legado que perdura até os dias de hoje. Analisando suas imagens, dá para perceber que ele dominava as técnicas fotográficas da época, e entendia de composição, poses e processo de revelação. Mesmo não estando mais aqui, tem muito o que ensinar sobre arte fotográfica, composições e fotografia como um todo para as futuras gerações”, defende a diplomada. 

Em relação aos desafios de conduzir uma pesquisa deste tipo, Pietra Darde diz que “um dos desafios mais significativos foi reconstruir a história de uma pessoa sem ter acesso direto aos relatos ou documentos escritos por ela mesma. Além disso, foi reunir e organizar uma quantidade considerável de materiais para construir uma narrativa cronológica. Outro grande desafio foi a seleção das imagens a serem analisadas, considerando o acervo gigantesco que Sebaldo deixou”.


Descobertas a partir das análises 

- A aplicação da metodologia de Boris Kossoy se mostrou eficaz na recuperação de informações das fotos, permitindo uma compreensão mais profunda do contexto histórico das fotografias.

- Foi possível compreender que as fotografias podem ser utilizadas como documentos históricos quando situadas no espaço-tempo apropriado e devidamente contextualizadas. Sem essas informações, diferentes interpretações poderiam surgir.

- Embora interpretadas a partir de perspectivas individuais, as fotografias sugerem ser testemunhos de vivências compartilhadas pela comunidade lajeadense.

- As fotografias de Sebaldo atestam que esses eventos de fato aconteceram.

- O valor das fotografias dele está  na singularidade de cada momento capturado e na capacidade dessas imagens de atravessar as barreiras do tempo. Por meio delas é possível perceber a evolução da comunidade e de seus costumes ao longo das décadas.

Relação das fotografias com a cidade

Pietra diz que a análise das imagens permitiu o estabelecimento de compreensões sobre a vida na cidade. “Por exemplo, por meio das imagens dos carnavais de rua, foi possível compreender como esses eventos eram importantes na integração da comunidade. A fotografia capturou não apenas o desfile, mas também mostra a participação e o envolvimento dos moradores, que lotaram a rua. Além disso, as fotografias documentam outras formas de lazer na época, como o clube do CTG que possuía uma piscina para os sócios. Foi legal constatar que essas atividades de entretenimento já estavam disponíveis na cidade naquela época”, informa. 

“É por meio de imagens como as do Sebaldo que as gerações futuras poderão compreender os aspectos sociais, culturais e históricos da cidade de Lajeado ao longo do tempo. Por exemplo, uma das imagens analisadas é sobre o carnaval de rua, uma tradição perdida ao longo do tempo em Lajeado. Essas fotos proporcionam uma visão viva do passado e complementam os registros escritos da história”.

Entre os planos futuros relacionados à obra de Sebaldo Hammes está a  produção de um documentário e a publicação de um livro que retrata a vida e obra do fotógrafo. “Além disso, penso em criar um espaço dedicado à sua memória, onde fotografias e história possam ser preservadas e apreciadas para além das redes sociais”, complementa a jovem.

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