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Ciência, Vale do Taquari

Trabalho técnico estabelece a cheia de 2023 como a maior já registrada em Lajeado em pelo menos 150 anos

Por Lucas George Wendt

Postado em 08/04/2024 11:39:23


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Maurício Tonetto/SECOM/RS

Um recente estudo técnico realizado por pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari - Univates, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Ufrgs e do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) revisou e consolidou dados, revelando resultados inequívocos sobre a amplitude das cheias no rio Taquari em Lajeado em 2023, ano em que houve duas inundações de grandes proporções na bacia hidrográfica Taquari-Antas, uma em setembro e outra em novembro. 

O trabalho, que investiga os desdobramentos das inundações na cidade de Lajeado, é assinado pelos professores da Univates Sofia Royer Moraes e Rafael Rodrigo Eckhardt, assim como pelo professor Walter Collischonn (Ufrgs) e Franco Turco Buffon (SGB). O texto na íntegra pode ser conferido por meio deste link. 

Pelo caráter de informação pública e pela relevância que têm as conclusões a que chegaram os técnicos, os dados levantados pelos pesquisadores serão apresentados para a Administração Pública Municipal e entidades em reunião ainda este mês. 

Pesquisadores combinaram análises de diferentes fontes e dados compreendidos num intervalo de 84 anos, configurando uma série histórica de cheias entre 1939 e 2023. A pesquisa, elaborada na forma de um parecer detalhado, analisou as observações sistemáticas e as marcas físicas das cheias do rio, especialmente na cidade de Lajeado, e concluiu que a cheia de setembro do último ano superou em 66 cm a marca da inundação de 1941, tida como a maior na cidade até então. 

Além disso, o trabalho também revelou que a marca da cheia de novembro de 2023 se iguala à de 1941, o que torna o ano de 2023 como aquele em que duas das três maiores inundações registradas na cidade aconteceram. Os dados também apontam que 2023 teve sete elevações do nível do rio Taquari acima dos 17 m (seis delas atingindo mais de 19 m - a cota de inundação entre Estrela e Lajeado), se igualando aos anos de 1983 e 1984, quando também sete elevações foram registradas. Esses são os três anos compreendidos entre 1939 e 2023 com os maiores números de elevações. 

A cheia de setembro de 2023, em Lajeado, pode ser considerada inequivocamente como a maior da história da região - e sem dúvidas, da história de Lajeado -, pelo menos nos últimos 150 anos. Em 1873 houve uma cheia de grande proporções cujas estimativas mais confiáveis do nível máximo atingido a colocam como até superior à cheia de 1941. 

Para que a população consiga avaliar melhor os riscos de uma inundação, os pesquisadores recomendam que seja realizado um estudo detalhado do comportamento do rio Taquari durante as cheias de grande magnitude, com ênfase para a análise da declividade da linha d’água, ao longo de todo o trecho no município de Lajeado e em outras cidades ao longo do rio. Além disso, recomendam que sejam elaboradas e disponibilizadas, de forma ampla e transparente, as chamadas cartas-enchente, que são mapas da área inundada correspondente a cada valor de referência medido na régua do posto fluviométrico.   

Os pesquisadores destacam que dados históricos e de longo prazo são importantes para a compreensão das cheias e de seus impactos na região ao longo dos anos. A partir desses dados, é possível, por exemplo, implementar medidas preventivas e de mitigação de desastres, desenvolver planos de contingência e aprimorar políticas de planejamento urbano e regulamentações de construção. Eles também contribuem para a preservação da memória das inundações passadas, pois garantem que as futuras gerações tenham acesso a informações sobre eventos que moldaram a comunidade local. Além disso, fornecem uma base sólida para estudos e pesquisas futuras, permitindo a análise das condições do território ao longo do tempo e o enfrentamento dos desafios impostos pelas mudanças climáticas e outros fenômenos ambientais.

Entendendo o contexto e o estudo técnico

Maurício Tonetto/SECOM/RS

Em Lajeado o monitoramento sistemático do nível da água do rio Taquari apresenta fragilidades, com registros fragmentados em função da criação e extinção de pontos de medição, resultando em três conjuntos relativamente independentes de dados, medidos por instituições diferentes e não exatamente no mesmo local. “Em consequência disto, a elaboração e análise de uma série de dados homogênea e consistente é mais complexa do que seria caso as medições tivessem sido realizadas sempre no mesmo local, com a mesma metodologia”, destacam os pesquisadores no texto.

Por outro lado, na cidade de Lajeado, existe a disponibilidade de uma fonte adicional de dados que são os registros não sistemáticos, na forma de marcas de cheias registradas como placas fixadas em um prédio localizado na área inundável, o Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat). Para apresentar conclusões consistentes, a análise dos pesquisadores, então, considerou dados de postos fluviométricos e registros não sistemáticos, como marcas físicas do nível máximo atingido pela água em edifícios históricos e registros fotográficos. O estudo apresenta uma série consolidada e consistente de cotas máximas anuais do rio Taquari em Lajeado, desde 1939 até 2023, compreendendo 189 registros de cheias do rio Taquari (entre elevações de pequeno e grande porte).

Os pesquisadores realizaram a revisão de relatórios técnicos, de fichas descritivas dos postos fluviométricos e da comparação de níveis d'água medidos nos diferentes pontos de medição sistemática e nas marcas das inundações, e encontraram os valores mais plausíveis da altitude ortométrica do zero da régua em que foram realizadas as medições em cada ano. A ortometria do zero da régua é uma expressão técnica que se refere ao processo de calibração ou ajuste do ponto de referência inicial de uma régua ou outro instrumento de medição. No contexto da medição do nível de água de um rio, isso significa estabelecer o ponto de partida correto a partir do qual as medições serão feitas.

Os achados do trabalho e mais detalhes

O ano de 2023 foi marcado por diversas inundações no rio Taquari-Antas, especialmente no trecho médio e inferior da bacia hidrográfica. Duas inundações com magnitude extrema foram registradas, uma em setembro e outra em novembro, com impactos significativos entre as cidades de Santa Tereza (na Serra) e Taquari (no Vale do Taquari).

As comparações revelaram que a maior parte das marcas de cheia encontradas no pilar do prédio do Ceat, no centro da cidade, é consistente com as observações sistemáticas nos postos fluviométricos e no porto fluvial de Estrela. A única exceção é a marca da cheia de uma de 1940, que está posicionada, no pilar do prédio do Ceat, mais de dois metros acima de onde deveria estar. 

 Com base nas informações colhidas, foi possível concluir que a cheia de setembro de 2023 superou a grande cheia de maio de 1941. Esta conclusão está baseada tanto na comparação das marcas das inundações existentes no prédio do Ceat, no centro da cidade, como em níveis observados em postos fluviométricos de monitoramento sistemático. De acordo com o monitoramento sistemático nos postos fluviométricos, a cheia de setembro de 2023 atingiu um nível máximo 66 cm mais alto do que a cheia de 1941. Esta informação é confirmada pela comparação entre marcas das inundações no prédio do Ceat, apenas com uma pequena variação na magnitude da diferença. 

De acordo com a comparação entre marcas das duas cheias no prédio do Ceat, a inundação de setembro de 2023 superou, em 51 cm, a cheia de 1941 no centro da cidade de Lajeado. Além disso, a comparação de marcas recentes e marcas históricas no prédio do Ceat mostra que a cheia de novembro de 2023 registrou, aproximadamente, o mesmo nível que a grande cheia de 1941. A cota máxima da cheia de 5 de setembro de 2023, medida na régua do posto fluviométrico atualmente em operação no rio Taquari no trecho em frente ao Centro Histórico de Lajeado, é 29,53 metros. 

Maurício Tonetto/SECOM/RS

Esta cota máxima corresponde à altitude ortométrica de 28,98 metros. A altitude ortométrica é a medida da altura de um ponto em relação a uma superfície de referência definida, geralmente o nível médio do mar. A cota máxima ajustada da cheia de 5 de maio de 1941, medida na régua do antigo posto fluviométrico que estava em operação na época no mesmo trecho do rio Taquari, é 22,72 m. Esta cota máxima corresponde à altitude ortométrica de 28,32 metros. Caso as réguas do Porto de Estrela, ou caso o posto fluviométrico atualmente em operação (posto número 86879300) estivessem em operação em 1941, a cota máxima que teria sido observada na régua seria de 28,87 metros. 

Esses valores divergem do valor de 29,92 metros, que frequentemente é citado como a cota máxima para a cheia de 1941. A explicação para essa divergência foi encontrada nas análises realizadas na presente nota técnica e está relacionada a um erro na estimativa da altitude ortométrica do zero da régua do antigo posto fluviométrico número 86870000, que estava em operação em 1941. O valor de 29,92 metros atribuído à cota máxima da cheia de 1941 está equivocado. 

Esse valor não foi medido na régua que existia em 1941, nem teria sido medido caso já operasse em 1941 a régua que foi utilizada no porto fluvial de Estrela entre 1977 e 2015. De acordo com os dados de monitoramento sistemático, o rio Taquari, durante a cheia de setembro de 2023, atingiu 28,98 metros de altitude ortométrica e, durante a cheia de maio de 1941, atingiu 28,32 metros. 

Isso significa que a cheia de setembro de 2023 atingiu um nível 66 cm mais alto do que a cheia de maio de 1941. Com base nos resultados das análises, concluímos que a cheia de setembro de 2023 superou a grande cheia de maio de 1941, com uma diferença de 51 cm, se considerada a diferença entre as marcas de cheia no prédio do Ceat, ou de 66 cm, se considerada a diferença no monitoramento sistemático.  

Divulgação

Régua presente no CEAT

Régua presente no CEAT

“A série homogênea de cotas máximas e o ranking de cheias elaborado na técnica permitem concluir que a cheia de setembro de 2023 é, sem dúvida nenhuma, a maior cheia ocorrida no rio Taquari em Lajeado nos últimos 84 anos, desde o início do monitoramento sistemático em 1939. Mais do que isso, é muito provável que a cheia de setembro de 2023 seja a maior ocorrida no rio Taquari desde, pelo menos, 1873, considerando válidas e representativas as marcas históricas das inundações fixadas no pilar do prédio do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat)”, destaca o texto da nota. 

Ainda não é possível afirmar com certeza, porém não é improvável que a cheia de setembro de 2023 tenha sido a maior cheia do rio Taquari em Lajeado em todo o período desde o início da colonização europeia na região, na segunda metade do século XIX. Para que isso possa ser afirmado, será necessário obter uma estimativa acurada do nível máximo atingido pelo rio Taquari durante a cheia de 1873, em um trabalho que ainda está em andamento, sendo realizado pelos pesquisadores. 

O grupo que realizou o trabalho técnico ressalta que, embora a análise apresentada permita concluir que a cheia de 1941 não atingiu os 29,92 metros, e que o nível de 29,92 nunca foi atingido por nenhuma medição no período de 1939 até 2023, não é impossível que o rio Taquari, junto ao centro de Lajeado, possa atingir o nível de 29,92 metros, ou valor semelhante, em uma futura cheia.  

Os pesquisadores salientam que as altitudes ortométricas do nível da água apresentadas no trabalho técnico são válidas para o trecho do rio Taquari entre o Centro de Lajeado e o Porto de Estrela. Em bairros de Lajeado localizados mais a montante (ou seja, antes), como Carneiros ou na região da Barra da Forqueta, o nível da água durante uma cheia é mais alto, em termos de altitude ortométrica, do que o nível medido no posto fluviométrico. Isso ocorre devido à grande declividade do nível da água do rio Taquari durante as cheias. 

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