A recente e maior tragédia do Rio Grande do Sul tem revelado o que defendemos enquanto educadoras: o exercício da liderança nunca é sobre cargo, sempre é sobre comportamento. Ou seja, um indivíduo pode ser um líder sem ter o cargo de líder.
Os veículos de comunicação e as redes sociais têm revelado, diariamente, a iniciativa de voluntários salvando vidas, fazendo triagem de roupas e alimentos, preparando refeições, escrevendo mensagens de conforto nas embalagens das refeições, montando kits com produtos diversos, abrindo estradas, limpando casas, empresas e ruas cobertas de lama, árvores, entre tantos outros objetos e materiais pesados, num imenso mutirão de proatividade, solidariedade, compaixão e cuidado.
Nesses processos de trabalho, observa-se que não há disputas de beleza, nem distinção de gênero, idade, etnia, formação, experiência e classe social. Todos ali estão unidos por um propósito - o de ajudar e, quem sabe, motivar outras pessoas a unir-se nessa empreitada.
Sem cargos, sem segundas intenções, sem remuneração, os voluntários, muitos vindos de diferentes cidades e estados brasileiros, são verdadeiramente líderes. Líderes com uma vasta e admirável lista de competências comportamentais (softs skills) comprovadas por suas ações. Ao ocupar espaços tomados pelo desespero, tristeza e ansiedade que poderiam ser fontes de paralisação, esses líderes inspiram e mostram outros modos de pensar, sentir e agir, comprometidos com as pessoas e com a reconstrução de suas memórias individuais e coletivas.
Cada gesto se torna uma forma de ressignificar a dor, e revela o sentido mais pleno da liderança: influenciar e guiar positivamente outras pessoas em direção a uma visão comum. A visão pode estar turva pela lama e pelas lágrimas, mas esses líderes estão nos encorajando a ver possibilidades de renascer, reconstruir pontes e sonhos.
Sejamos líderes, com ou sem cargos!
Por Bernardete Bregolin Cerutti e Luciane Franke, professoras dos cursos de Gestão da Univates