No final da década de 60 a comunidade lajeadense definiu o espaço que caberia à sua Universidade comunitária e escolheu uma área de terras de 60 hectares, então localizada a mais de 5km do centro da cidade. Essa área, na época predominantemente rural, mal tocava o perímetro urbano da cidade e era ocupada pelo Ministério da Agricultura com um posto agropecuário então desativado.
A comunidade lajeadense pensou numa universidade fora do centro urbano da cidade, com amplos espaços, jardins e caminhos arborizados, prédios horizontalizados, num modelo clássico de campus universitário dos anos 50 e 60 existente em diferentes países.
Sempre que se pensou o plano diretor do campus da Universidade de Lajeado, mais tarde, da Universidade do Vale do Taquari, foi com a ideia de disponibilizar amplos espaços livres para estudo, lazer e convivência para quem permanece o dia todo na universidade. Assim, os prédios com salas de aula, laboratórios, salas de estudo e pesquisa, etc, são intercalados e interconectados com outros prédios específicos para restaurante universitário, áreas de esportes, residência universitária, hospital, clínicas médicas e veterinárias, museu, biblioteca, teatro, incubadora de empresas, parque tecnológico, etc.
Com essas preocupações, desde os primeiros esboços, o plano diretor da instituição levou em conta as demandas e as possibilidades que o relevo das terras permitia. Assim, à medida que a instituição foi crescendo, se consolidando e agregando novas áreas do conhecimento, com mais cursos e mais alunos, todas essas possibilidades foram saindo do papel e tomando vida no campus.
Paralelo a essas intervenções no campus sempre houve a preocupação de manter, preservar e fortalecer espaços naturais como os corpos hídricos, nascentes, trechos de mata e árvores. Exemplos dessa preocupação podem ser o laguinho ao lado do prédio 9 ou o formato arquitetônico do mesmo prédio que levou em conta a preservação de uma araucária existente quando o prédio foi construído em 2004.
Nesses projetos de expansão e consolidação do campus, o prédio da Biblioteca sempre teve uma atenção especial. Uma primeira biblioteca, numa sala mais ampla do primeiro piso do Prédio 1, funcionou até o final dos anos 1990 quando foi substituída por um prédio específico e desenhado para ser uma biblioteca no atual Prédio 2.
Com a crescente expansão do número de alunos começou-se a pensar na nova biblioteca que deveria comportar o crescimento futuro da universidade e, ao mesmo tempo, ser uma espécie de prédio icônico da Instituição. A nova biblioteca, pelo seu simbolismo e pela sua arquitetura, deveria representar para o campus universitário o que uma catedral medieval representava para a cidade à sua volta.
À medida que as discussões e os esboços de projetos foram sendo elaborados, resolveu-se juntar a ideia de uma nova biblioteca interligada fisicamente com um teatro moderno e qualificado, tão necessário para a Universidade, para Lajeado e para o Vale do Taquari.
Assim nasce o Centro Cultural Univates: um espaço para a guarda de informações e conhecimentos e, ao mesmo tempo, para a transferência e a divulgação desses mesmos conhecimentos, para o lazer, para a cultura diletante e para a convivência humana.
Desde a inauguração do Centro Cultural Univates o mundo tem passado por profundas transformações tecnológicas e o livro impresso deixou de ser o soberano guardião dos conhecimentos. Esse espaço hoje é dividido com as mídias digitais, os livros eletrônicos, etc. Entretanto, a biblioteca mantém o seu papel de guarda e divulgação do conhecimento, assim como o de propiciar espaços de encontros coletivos ou de introspecção individual.
O Centro Cultural com as suas ferramentas biblioteca e teatro, tem ajudado a mudar a Universidade e a região do Vale do Taquari. É nesse espaço que a região se encontra, seja para ver peças teatrais como Macbeth, espetáculos de dança como Balé Bolshoi, discussões sobre as enchentes e o futuro do Vale, recepcionar o Governador ou o Presidente da República.
É nesse espaço que a região sente, dança, canta, ri, chora, aprende, ensina, empossa, odeia, ama, aplaude, vaia, abraça, palpita
Enfim, é nesse espaço nobre que a região se reconhece, alimenta sua autoestima, se orgulha da sua Universidade e de ser Vale do Taquari.
Ney José Lazzari é mestre em Gestão Universitária e presidente da Fundação Univates.