Na imagem aérea, vista de parte da região metropolitana e da capital do RS, Porto Alegre, áreas afetadas pelos eventos climáticos recentes
No distante abril de 2016 a Univates dava início ao seu Programa de Mestrado Profissional em Sistemas Ambientais Sustentáveis. Na aula inaugural, o professor Luiz Marques, da Universidade de Campinas - Unicamp, fazia a apresentação de seu livro denominado Capitalismo e Colapso Ambiental. Passados todos estes anos acompanhando a calamidade que vive o estado do Rio Grande do Sul e lembrando da fala do emérito professor/pesquisador, voltei a visitar o livro e, nele, o capítulo 6 Mudanças Climáticas.
Tenho lido e ouvido várias pessoas emitirem opiniões, muitas delas suportadas no senso comum, que buscam apontar os responsáveis, as causas, e as formas de responder ao evento climático severo que assolou nosso estado. Importante ter presente a fala de um estudioso do tema. Luiz Marques aborda de maneira incisiva a relação entre o sistema capitalista e as mudanças climáticas. Publicado pela Editora Unicamp em 2015, o texto oferece uma análise crítica e abrangente sobre os impactos ambientais e sociais desse fenômeno, destacando a insustentabilidade do modelo econômico vigente.
Marques inicia contextualizando as mudanças climáticas no escopo do desenvolvimento econômico, argumentando que a busca incessante por crescimento exacerba a degradação ambiental. Ele aponta a lógica capitalista de produção e consumo desenfreados como intrinsecamente insustentáveis, colocando em risco a estabilidade climática do planeta. O autor apresenta dados científicos que demonstram o aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, destacando o papel das atividades humanas, especialmente a queima de combustíveis fósseis.
Relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC são citados para corroborar suas afirmações, oferecendo um panorama alarmante do cenário atual. O professor analisa os impactos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas e a biodiversidade, discutindo como o aquecimento global leva à extinção de espécies, acidificação dos oceanos e derretimento das calotas polares. Ele também enfatiza as consequências socioeconômicas, como a escassez de recursos hídricos, a redução da produtividade agrícola e o aumento da frequência de desastres naturais que afetam principalmente as populações mais vulneráveis.
A crítica de Marques à resposta insuficiente dos governos e instituições internacionais frente à crise climática é contundente. Ele aponta a falta de vontade política e os interesses econômicos como principais obstáculos à implementação de políticas efetivas de mitigação e adaptação. As negociações climáticas, como as Conferências das Partes (COP), são criticadas por produzirem acordos pouco ambiciosos e desprovidos de mecanismos de aplicação robustos.
Para enfrentar as mudanças climáticas de forma eficaz, Marques defende uma transformação radical do sistema econômico, propondo a transição para um modelo de desenvolvimento sustentável baseado em energias renováveis e na redução do consumo. Além disso, ele sugere políticas públicas que promovam a justiça social e ambiental, garantindo que os custos da transição não sejam arcados pelas populações mais pobres.
A leitura da obra, no seu todo, é essencial para quem deseja compreender a profundidade da crise climática e a urgência de uma mudança de paradigma. Marques oferece uma análise contundente e bem fundamentada que desafia os leitores a refletirem sobre as implicações para o futuro do planeta. Ao final, fica claro que as mudanças climáticas não são apenas um problema ambiental, mas uma questão sistêmica que exige uma reavaliação das prioridades econômicas e políticas globais.
Em suma, Luiz Marques comunica de forma clara e acessível a gravidade das mudanças climáticas e a inadequação do atual modelo econômico para lidar com essa crise. Sua análise, embasada em dados científicos sólidos, traz uma crítica poderosa às estruturas de poder que perpetuam a degradação ambiental. Este capítulo, assim como o livro como um todo, é um chamado à ação e à reflexão, um convite para repensar nosso papel na preservação do meio ambiente e na construção de um futuro sustentável, o que fica reforçado pelo momento que o Vale do Taquari vive.
Qual o papel dos diferentes atores: poder público, academia, empresários, sociedade civil? Me responde aí.
Referência
Marques, Kuiz. Capitalismo e Colapso Ambiental. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2015.
Carlos Candido da Silva Cyrne é doutor em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) e Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação na Univates.