Em situações de crise e condições extremas, como as enchentes no Rio Grande do Sul, ocorre um reordenamento de valores, e a preservação da vida torna-se o valor supremo. Essa é uma das ideias defendidas pelo filósofo alemão Max Scheler em sua obra Der Formalismus in der Ethik und die materiale Wertethik.
Ainda que a preservação da vida possa ser interpretada como um elemento tão básico e óbvio, ao ponto de ser pré-condição para qualquer outro valor, o fato de não ser mencionada, e por vezes sequer lembrada, nos convida a refletir se, no cotidiano, é de fato
um valor supremo. Logo, a reflexão filosófica de Scheler convida a revisitar os valores pessoais. Diante do caos, nada além da vida importa. E sem o caos, temos noção do que realmente importa?
Em paralelo, na gestão, um dos elementos para times de sucesso está no alinhamento entre valores pessoais e valores corporativos. Se, no cotidiano, podemos não compreender o que é mais valioso, o mesmo pode acontecer em relação aos valores organizacionais. É fato que, para a sustentabilidade da empresa, é fundamental considerar aspectos econômico-financeiros e, portanto, estes estão entre os valores essenciais para a sua continuidade.
Mas é fato também que as empresas estão inseridas na sociedade e relacionam-se com atuais e potenciais funcionários, clientes, fornecedores, acionistas e stakeholders, além de variáveis econômicas, legais, ambientais, demográficas, tecnológicas, sociais e políticas, que constituem seus micro e macro ambientes. Na prática, se em momentos de crise reordenamos os valores pessoais, cabe refletir se, diante dessa revisão, eles ainda estão, de algum modo, alinhados aos valores organizacionais.
Por isso, convidamos você a refletir: a empresa em que você atua ainda representa o que você acredita? Ademais, cabe às empresas reavaliar se há gestão e relações de trabalho humanizadas para possibilitar que os grandes times permaneçam alinhados em seus valores e metas de produtividade, de modo a promover cada vez mais uma cultura corporativa sólida, duradoura e exitosa.
Bernardete B. Cerutti é doutora em Desenvolvimento Regional (Unisc). É professora da Univates nos cursos presenciais e a distância da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Luciane Franke é doutora em Economia do Desenvolvimento (UFRGS). Professora no Curso de Administração de Empresas da Univates.