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Artigos

Educação e comunicação como estratégia de resiliência frente a eventos climáticos

Por Lucas George Wendt e Sofia Royer Moraes

Postado em 07/06/2024 11:27:56


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Recentemente e, em eventos meteorológicos que ainda estão em desenvolvimento no Estado, o Rio Grande do Sul passou a lidar como uma emergência climática que, em muito, é intensificada pela ação humana, como apontam estudos e o consenso científico. Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas em todas as regiões do RS, o que evidencia fragilidades das comunidades em diferentes níveis, ao mesmo tempo que demonstra oportunidades de mudança desta realidade para quando eventos futuros acontecerem, para o território gaúcho e brasileiro. 

As pessoas precisam estar preparadas para reconhecer as vulnerabilidades de seu ambiente, de que forma estão suscetíveis e, mais do que isso, o que fazer e como agir em situação de emergência, algo que só será alcançado com investimento público, atuação das autoridades e colaboração da população, ou seja, com o envolvimento de todos. As comunidades que interagem com o Rio Taquari, no Vale do Taquari, por exemplo, em sua maioria, são grupos vulneráveis à falta de informação e acesso à educação ambiental e patrimonial. Precisamos desenvolver uma relação mais harmônica e sustentável com o ambiente em que vivemos, o que atende ao Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11, que busca a construção de cidades e comunidades sustentáveis. 

A comunicação e a educação emergem como recursos para preparar, responder e promover a recuperação em contextos de eventos meteorológicos extremos, numa realidade que observamos ser mais frequente e intensa. Neste artigo de opinião, exploramos como essas ferramentas, aliadas ao papel das autoridades e à promoção do conhecimento técnico e científico, podem fortalecer a resiliência das comunidades afetadas por desastres climáticos e preparar as pessoas para situações extremas.

Comunicação para preparação e resposta 

A frequência e intensidade de eventos meteorológicos extremos são evidências das mudanças climáticas e ambientais globais. Estudos indicam que as mudanças climáticas podem ter dobrado as chances de ocorrência de eventos catastróficos, como o que está acontecendo no RS. Inundações, secas e ondas de calor têm causado impactos socioeconômicos em comunidades ao redor do mundo, em todos os continentes, evidenciando a necessidade de desenvolvimento de estratégias eficazes de adaptação e resiliência. 

Tudo começa pelo planejamento e pelo pensar ANTES. Antes da ocorrência de um desastre, com base na essência de compreender realmente a dinâmica natural de bacias hidrográficas, sua condição de topografia, a previsão efetiva de chuva e como ela responde em termos de variação dos níveis dos rios, somado a ampliação da rede de monitoramento de variáveis como precipitação e nível.

Com base no saber e no seu potencial multiplicador, a comunicação é pilar para a disseminação de informações que salvam vidas e minimizam danos, assim como campanhas educativas e programas de sensibilização para a conscientização, se constituem ótimos recursos para informar as comunidades sobre os riscos potenciais e as medidas preventivas, além de fomentar uma cultura de prevenção. Com alertas meteorológicos, compreensão e dimensão dos riscos de onde vivemos, as respostas do monitoramento e sistemas de aviso prévio combinado a planos de evacuação bem comunicados, as autoridades podem preparar as populações para responder mais rapidamente a emergências iminentes.

Em regiões propensas a furacões, como a costa leste dos Estados Unidos, as autoridades frequentemente emitem alertas e instruções sobre como preparar kits de emergência, proteger propriedades e rotas de evacuação seguras, além de simulados planos de contingência e evacuação, o que evidencia como a preparação e ações de comunicação e educação desempenham um papel sumário na preservação das vidas. 

Durante um desastre, a comunicação rápida e clara é importante para coordenar respostas de emergência e garantir a segurança das pessoas. Sistemas de comunicação de emergência, como sirenes, transmissões de rádio, carta-enchente, identificação de rotas de fuga são ferramentas as quais uma grande parte das comunidades ainda não dispõem, e se tornam recursos de primeira urgência para fornecer atualizações em tempo real e instruções de segurança à população. A colaboração entre autoridades locais, estaduais e federais, de forma coordenada, também é outro elemento chave para uma resposta coesa e eficiente.

Durante a temporada de incêndios florestais na Califórnia, nos Estados Unidos, por exemplo, a comunicação entre bombeiros, serviços de emergência e o público em geral que mora em áreas suscetíveis é intensificada. Aplicativos de alerta e mídias sociais são usados para informar sobre áreas de risco, rotas de evacuação e locais de abrigo. 

Após um desastre, a comunicação continua a ser ponto focal para a recuperação e reconstrução das comunidades afetadas. Informações claras e que partam de um ponto centralizado sobre assistência disponível, programas de reconstrução e suporte psicológico ajudam as pessoas a se recuperarem física e emocionalmente. Além disso, a comunicação transparente sobre os esforços de reconstrução e os recursos alocados a políticas públicas de mitigação, promovem a confiança entre as comunidades e as autoridades, especialmente em um contexto de disseminação de notícias falsas e descrédito da ação das autoridades. 

Educação para a resiliência

À educação, é relegado um lugar potente e transformador na construção de comunidades resilientes. Programas educativos que incorporam conhecimento técnico e científico multidisciplinar sobre desastres naturais e mudanças climáticas capacitam indivíduos e comunidades a compreenderem os riscos, a adotarem medidas de mitigação, com uma postura que repercute socialmente e pode/deve ser amplamente engajada pelas autoridades em todos os níveis em formato orgânico. 

Para o cenário atual em que a humanidade se encontra não é conhecido um ponto de retorno, de forma que as instabilidades causadas pela ação humana no ambiente são uma questão que, além de urgente, é permanente. A inclusão de temas relacionados a desastres no currículo escolar e em programas de formação continuada para agentes-chave nas comunidades é primário para criar uma cultura de prevenção e preparação.

No Japão, por exemplo, a educação sobre desastres é uma parte integral do currículo escolar. O país é bastante sujeito à ocorrência de terremotos. Estudantes participam de simulações de terremotos e aprendem sobre medidas de segurança desde cedo, o que contribui para uma sociedade preparada para enfrentar este tipo de sinistro. 

Defende-se que as autoridades têm a responsabilidade - e o desafio - de liderar esforços para proteger a população e promover a cultura da resiliência, com o auxílio de todos os interagentes: universidades, organizações de classe, empresas, organizações não-governamentais, agentes de saúde, lideranças comunitárias etc. 

Isso inclui o desenvolvimento e implementação de políticas públicas eficazes, a alocação de recursos para infraestruturas resilientes e a promoção de pesquisa científica sobre mudanças climáticas e desastres naturais a nível regional, de bacia hidrográfica e impacto local.  As autoridades têm o dever de trabalhar a esfera regional e local,  vindo ainda, a garantir que a comunicação e a educação sejam acessíveis e inclusivas para todas as pessoas, atendendo às necessidades de todas as comunidades, especialmente as mais vulneráveis e suscetíveis.

A criação de conselhos de gestão de desastres em nível local e nacional, como a Federal Emergency Management Agency (Agência Federal de Gestão de Emergências - FEMA) nos Estados Unidos, estabelecida em 1979, exemplifica como as autoridades podem estruturar respostas coordenadas e eficientes a desastres, promovendo a resiliência por meio de comunicação, políticas públicas e iniciativas educacionais.

 

Os autores 

Lucas George Wendt é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – PPGCIN/UFRGS. Também é especialista em Comunicação Institucional/Fadergs (2021), bacharel em Biblioteconomia/UCS (2021) e bacharel em Jornalismo/Univates (2017). É funcionário da Univates desde 2012. 

Sofia Royer Moraes é doutoranda em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental no Instituto de Pesquisas Hidráulicas – IPH/UFRGS. Atua como professora na Universidade do Vale do Taquari – Univates. Atualmente, sua pesquisa se dedica ao campo de eventos extremos hidrológicos. 

Lucas George Wendt

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