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Vale do Taquari

Mapeamento da ONU que identifica discriminação e falta de assistência a refugiados é apresentado na Univates

Por Redação Univates

Postado em 26/09/2024 14:53:50


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Com informações do Grupo A Hora                                                             

Um cenário de preconceito, falta de acesso à informação e direitos, além de opções de trabalho desgastantes. Esta é a realidade dos mais de 1,5 mil refugiados que vivem no Vale do Taquari. Após a catástrofe climática de maio deste ano, moradores de diferentes nacionalidades ainda destacam os desafios da habitação e de acesso a benefícios sociais.

Esse mapeamento foi feito pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR/RS), que atua na região desde junho, e apresentado ontem (25), em evento na Universidade do Vale do Taquari - Univates. Com o tema "O impacto de desastres socioambientais no Vale do Taquari: desafios e oportunidades na resposta à população refugiada", o momento buscou alternativas para oferecer melhores condições de vida a esse grupo populacional.

Coordenadora de emergências da ACNUR/RS, Ana Scattone esteve presente em uma série de missões da instituição ao Vale do Taquari após as cheias, com o objetivo de mapear os refugiados em diferentes municípios.

"Não tínhamos estatísticas atualizadas e iniciamos uma série de entrevistas com as famílias", conta Ana. Segundo ela, foram 683 famílias entrevistadas. No total, 1.438 pessoas participaram do levantamento, e 150 famílias ainda serão contatadas até o fim de setembro. 

Perfil no Vale

De acordo com Ana, o número de refugiados começou a aumentar na região a partir de 2019, e teve novo aumento em 2023. No Brasil, a principal entrada de refugiados é por São Paulo (26,88%), seguido pelo Rio Grande do Sul (26,37%) e Acre (15,52%).

Entre as origens, está, em primeiro lugar, o Haiti (76,29%), seguido por Venezuela, República Dominicana e Angola. Apesar da maioria masculina, foi constatado elevado número de mulheres estrangeiras. Entre os municípios que mais recebem refugiados na região, estão Lajeado e Encantado, seguidos por Arroio do Meio e Estrela.

O mapeamento ainda identificou as principais necessidades, que incluem a atenção a públicos específicos, como crianças em risco, pessoas com deficiência, idosos, pessoas com condições médicas severas, mulheres em risco, entre outros.

O acesso a moradias adequadas é outro déficit na região. De acordo com a ACNUR/RS, a maioria das famílias reside em áreas de alto risco em todas as cidades. Muitas das moradias são atingidas pelas cheias. Grande parte dos refugiados é dependente de aluguéis e há inúmeros relatos de violações contratuais, abusos na negociação e desrespeito à legislação.

Ainda, famílias refugiadas destacam a dificuldade de encontrar fiadores e empréstimos bancários, além de não terem conhecimento sobre regras contratuais e seus direitos. Na região, também citam a dificuldade de documentação e falta de alternativas para habitação digna. A barreira linguística e relatos de discriminação também interferem na busca por moradias. 

No trabalho

O mapeamento ainda identificou que a grande maioria da população refugiada trabalha em uma pequena concentração de empresas importantes para a economia da região, relacionadas ao setor frigorífico e laticínios. Nesses casos, dependem de transporte dos empregadores, além de opções de creches para os filhos.

Apesar da grande oferta de trabalho, ela se restringe a cargos específicos e exigentes em termos de saúde física e mental. As comunidades refugiadas relatam pouco conhecimento sobre direitos trabalhistas, além de violações contratuais. Muitos deles demonstram falta de perspectivas de carreira e destacam a discriminação no ambiente de trabalho. "Nosso desafio é sensibilizar os brasileiros sobre o assunto", destaca Ana. 

Daqui pra frente

Diante da catástrofe climática no Vale do Taquari, o promotor de Justiça Sérgio Diefenbach diz que uma situação de desastre acentua as necessidades de populações vulneráveis. Ele afirma que muitas das forças regionais estão preocupadas em conter o fenômeno. Mas reforça a importância de dar atenção às vulnerabilidades humanas para que as catástrofes tenham menor impacto. Diefenbach ressalta a necessidade de se organizar equipes profissionais treinadas para o serviço social.

A psicóloga e professora do curso de Psicologia da Univates, Gisele Dhein, também defende a unificação de serviços oferecidos a populações vulneráveis e um olhar integrado para as necessidades humanitárias da região.

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