A professora e socióloga do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas (CCHJ) da Univates Shirlei Mendes da Silva foi selecionada para lecionar durante o ano letivo de 2012 na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). Ela envia notícias periódicas das atividades desenvolvidas nesse país.
Confira os últimos relatos:
Viajando pelo sudeste asiático
A vida em Díli, no Timor-Leste, tem me apresentado várias surpresas. No feriado da Páscoa pude viajar para Bali, Singapura e Malásia. O sudeste asiático é realmente magnífico. A diversidade cultural e étnica povoa este lado oriental do mundo com uma gigantesca pluralidade de cores, sons e formas. Templos budistas, mesquitas muçulmanas, templos hindus e igrejas cristãs convivem amigavelmente.
Em Bali, depois de assistir ao por do sol, descubro a diversidade e riqueza do artesanato, dos móveis talhados à mão, da pintura dos tecidos... Já Singapura parece o centro do capitalismo ocidental no Oriente: uma arquitetura moderna, um país muito rico, ou melhor, uma cidade-estado que construiu uma ilha artificial para enterrar e encinerar seu lixo produzido. E na Malásia, em Kuala-Lumpur, me vejo cercada por muçulmanas e seus trajes pretos da cabeça aos pés, visito o mercado central e o bairro chinês e também visito o palácio do rei e as maravilhosas torres Petronas, totalmente iluminadas à noite.
Da viagem relâmpago guardo as fotos e recordaçoes de dias felizes. Mas meu olhar viajante percebe tantos outros aspectos que poderiam ser problematizados: pergunto-me sobre o transporte público em Bali, afinal, a cidade está “minada” de motocicletas por todos os lados. E em Singapura, com seus mega-shoppings de luxo, me deparo com uma concentração de riqueza nunca antes vista. Mas deixo estas e outras reflexões para minhas aulas de Sociologia e Política, quando eu voltar...
As eleições presidenciais em Timor-Leste
No dia 16 de abril, segunda-feira, o povo timorense elegeu seu presidente. E, em breve, teremos a eleição do primeiro-ministro e do novo parlamento. O ano de 2012 definirá o novo cenário político em Timor-Leste. Após a independência, oficialmente proclamada com a Constituição de 2002, esta foi a terceira eleição presidencial em 10 anos de autonomia deste pequeno país-ilha ao lado da Indonésia. Dois candidatos concorreram ao pleito: Lu Olo, pelo partido da Fretilin (Frente de Libertação Nacional) e Matan Ruak, candidato independente, mas que contou com o apoio expresso de Xanana Gusmão, atual primeiro-ministro e grande liderança carismática que liderou a luta pela independência timorense nos anos 90. Parece que o apoio de Xanana foi fundamental para a vitória do general Matan Ruak, líder da Resistência timorense que assumiu o comando das Falintil, hoje transformadas em forças armadas do Timor.
A eleição deste ano ocorreu tranquilamente e, no primeiro turno, em 15 de março, participaram 12 candidatos. Apenas dois deles foram selecionados para o segundo turno: Lu Olo e Matan Ruak. A Fretilin, formada em 1974, foi o grande partido da Resistência timorense à ocupação indonésia. E Xanana Gusmão era sua grande estrela. Após a independência de Timor, Xanana abandona a Fretilin e permanece no governo, ora como presidente, ora como primeiro-ministro. E, agora, apoiou abertamente o candidato Matan Ruak.
Na verdade, tanto Lu Olo como Matan Ruak e Xanana Gusmão lutaram pela Fretilin durante a ocupação indonésia em Timor, embora em frentes diferentes. Todos foram presos pelo exército indonésio durante os anos 80 e 90. Suas histórias de luta se aglutinam e se diluem com o andar do tempo. Antes, unidos pela Fretilin, hoje Lu Olo assume uma oposição ao carismático Xanana. No dia 07 de julho ocorrerão as eleições parlamentares que indicarão quem será o primeiro-ministro que sucederá Xanana. Os boatos em Timor sempre foram muito fortes, há quem diga que a eleição de julho é de suma importância para a estabilidade política em Timor, pois, com a possível saída de Xanana do poder, é impossível prever os caminhos da política timorense.
Shirlei Mendes da Silva
De Díli, Timor-Leste
