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Professora relata cotidiano no Timor-Leste

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A professora e socióloga do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas (CCHJ) da Univates Shirlei Mendes da Silva foi selecionada para lecionar durante o ano letivo de 2012 na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). Ela envia notícias periódicas das atividades desenvolvidas nesse país.

Confira os recentes relatos:

A missa em Balide

Há cerca de um mês mudei-me para o Bairro de Balide, em Díli, Timor-Leste. Exatamente em frente à Igreja de Balide. Aos domingos, acordo com a missa das 7h, depois vem a missa das 8h e em seguida a missa das 9h. Impossível ficar alheio a essa religiosidade. A explicação, como sempre, é histórica. Portugal, à época das grandes navegações, era um país católico e, junto com as caravelas portuguesas, chegaram em Timor os padres para catequisar os “selvagens”, aqueles que moravam nas selvas.

Em Timor, a Igreja Católica assume um espaço central somente no século XX, precisamente a partir de 1975, quando a Indonésia invade o território timorense. Até 1750, apenas oito portugueses e alguns monges dominicanos viviam em Timor (Sarmento, paper s/d), mostrando o pouco interesse de Portugal por esta pequena colônia. Segundo este autor, predominava o “animismo”, religião indígena que cultuava a Terra-mãe. Quando os indonésios ocuparam o Timor, eles preocupavam-se com o ateísmo local, percebido como um indicador de potencial comunista, então os timorenses declararam-se católicos, para fugir às perseguições. Atualmente, cerca de 90% dos timorenses são católicos, traço específico da identidade timorense, em contraste com seus vizinhos indonésios muçulmanos e balineses budistas.

A Igreja Católica, a partir dos anos 80, tornou-se uma instituição central na luta política em Timor. Sarmento afirma que “a religião coincide com a nação, dividindo Timor em Oeste e Leste.

Explica-se, assim, a ligação entre religiosidade e nacionalismo, ambos extremamente presentes no cotidiano dos timorenses, resultado de um momento histórico em que era preciso resistir ao inimigo, e a ideia de nação firma-se com a opção pela Igreja Católica, a Igreja que resistiu, junto com o povo, às formas de dominação e opressão impostas pelos indonésios.

Interessante observarmos que também na América, e no caso específico do Brasil, também a partir dos anos 1970 e 1980, durante a ditadura militar, a Igreja Católica aproxima-se de suas bases por meio do movimento dos padres e freiras ligados à Teologia da Libertação. Este, aliás, é um dos temas que abordo em minhas aulas de Ciência Política.

Fonte: Sarmento, João. A construção da nação e da paisagem timorense. Universidade do Minho, Portugal (j.sarmento@geografia.uminho.pt).

A solenidade de formatura dos alunos da UNTL, em Timor-Leste

Na manhã do dia 24 de abril assisti à solenidade de formatura dos alunos graduados na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). A Antropologia nos ensina sobre a importância dos rituais para a manutenção da coesão social entre as pessoas. São diversos os ritos de passagem produzidos culturalmente pelos grupos sociais. E aqui em Timor, uma sociedade extremamente tradicional, profundamente destroçada pela ocupação indonésia, estes rituais assumem importância central para aproximar as pessoas e diluir conflitos e pendências passadas.

A solenidade aconteceu no Centro de Convenções de Díli, com a presença do Primeiro-Ministro, Xanana Gusmão. Tal fato marca a importância deste evento na agenda nacional. Após cantarmos o hino nacional, assistimos a Oratio Sapientiae proferida pelo professor Dr. Antonio Cunha, Reitor da Universidade do Minho, de Portugal. Seguiram-se breves palavras do Sr. Reitor, Prof. Dr. Aurélio Guterres, e do Primeiro-Ministro, Xanana Gusmão. Foram 189 graduandos de quatro faculdades (Ciências Sociais, Educação, Artes e Humanidades, Engenharia, Ciências e Tecnologia, Direito) e 12 formandos do Mestrado em Ciências da Educação da UNTL.

Após, um pequeno almoço (ou café) esperava os convidados, possibilitando uma maior interação entre a Universidade e os acadêmicos e seus familiares. Mais um momento extra-aulas em que posso conhecer um pouco mais sobre a vida social em Timor.

Shirlei Ines Mendes da Silva

de Díli, Timor-Leste

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