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Professora relata experiências no Timor-Leste

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A professora e socióloga do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas (CCHJ) da Univates Shirlei Mendes da Silva foi selecionada para lecionar durante o ano letivo de 2012 na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). Ela envia notícias periódicas das atividades desenvolvidas nesse país.

Confira os últimos relatos:

A cerimônia da “prenda” ou Barlaki

Aqui em Timor-Leste há um ritual muito importante: a cerimônia da “prenda”, ou seja, o pedido de casamento. É uma festa tradicional que marca a união das famílias dos noivos, sendo que as famílias correspondem a um clã, organização social tribal composta por vários ramos consanguíneos. Na verdade, o clã é composto por famílias extensas (pais, filhos, primos, tios, avós).

Fui convidada para a cerimônia pela tia da noiva, aluna da UNTL. A festa é organizada pela família da noiva. Quando chegamos à casa, havia uma grande mesa central, com as comidas e bebidas dispostas em lindos arranjos. De ambos os lados da mesa central, muitas cadeiras ordenadas em filas. Do lado esquerdo ficavam os parentes da noiva, do lado direito, os parentes do noivo. Detalhe: o noivo e seus parentes chegam todos juntos, com hora marcada (nesta festa, cerca de 100 pessoas, entre crianças e adultos). O tio do noivo anuncia a chegada do noivo: primeiro entram as meninas, vestidas de branco e as mulheres da família, trazendo presentes para a festa: comida, cigarros etc. Depois vêm os meninos e os homens da família, trazendo caixas de bebida (água, suco, cerveja, vinho). Todos se acomodam, os representantes de ambas as famílias se juntam e iniciam as negociações sobre o dote pago pela família do noivo. Este dote é composto de uma quantidade de animais (búfalos, cabritos ou cavalos), de catanas (espécie de espada), joias ou dinheiro. Após mais de duas horas, fica decidido o dote pago pelo noivo.

Segue-se o ritual, a janta é servida e iniciam-se as danças. Nesta hora nos despedimos. E tudo isto somente para o pedido de noivado…

Cooperação internacional entre Brasil e Timor-Leste

No dia 31 de maio eu e o professor Valmir Nogueira visitamos o Centro de Formação Profissional Brasil Timor-Leste, em Díli. Fomos recebidos carinhosamente pelo Coordenador do Projeto local, senhor Jones César Ribeiro, único brasileiro a trabalhar no Centro. Jones contou-nos que está aqui desde 2004, e nos apresentou todas as instalações do complexo educacional, que está cercado de várias escolas timorenses. Jones é um apaixonado pelo que faz. Com formação na área de finanças e tecnologia, conhece minuciosamente o trabalho da cooperação técnica Brasil-Timor.

Fruto de uma cooperação internacional entre os governos brasileiro e timorense, o Centro de Formação Profissional local foi fundado em 2001, ainda durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Situado no Bairro de Becora, o prédio consiste num complexo onde, antes da independência, havia uma escola indonésia que foi destruída pelas milícias em 1999, após o referendo pela emancipação de Timor.

O Projeto foi implementado pela Cooperação Bilateral entre o Brasil e Timor-Leste, por meio do Ministério de Relações Exteriores (MRE) brasileiro e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) – Regional São Paulo e a Secretaria de Estado da Formação Profissional e Emprego (Sefope – Ministério do Trabalho, Timor-Leste). Este programa teve como objetivo a reconstrução do país. A primeira missão consistiu na fase emergencial, com a reconstrução e adaptação do prédio pela equipe da construção civil que, juntamente com os atuais funcionários timorenses, reconstruíram o complexo de educação técnica. Por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), que mantêm os gastos em equipamentos e manutenção, a parceria tem a contrapartida do governo timorense por meio da Secretaria de Estado da Formação Profissional e Emprego – Sefope –, que paga os salários de todos os funcionários.

Em seus 10 anos de funcionamento, já se formaram mais de 2 mil alunos em oito áreas de Ensino Profissional: Costura, Panificação, Pedreiro, Canalização, Informática, Marcenaria, Eletricidade e Carpintaria. Atualmente mais três cursos estão sendo implementados: Mecânica de Motos, Refrigeração e Manutenção de computadores. Os cursos de Informática e Marcenaria são oferecidos em 200 horas-aula, o restante têm duração de 400 horas-aula (cinco meses ou um semestre), e os professores são timorenses com capacitação no Timor-Leste e no Brasil. Tudo que é produzido na escola é doado para creches e escolas em Díli, pois o planejamento institucional não permite a comercialização dos produtos feitos pelos alunos.

Há uma gestão escolar e administrativa formada por um Diretor Timorense, senhor Alexandrino Rego, responsável pela gestão do centro, e um técnico timorense encarregado da parte técnico-pedagógica.

Jones mostra-nos a Sala da Cooperação. Primeiro, vemos o Diagrama de Fluxo da Rede de cerca de 40 computadores e um servidor que controla todas as informações digitalizadas. Jones mostra-nos a licença de todos os softwares utilizados pelo centro local. A seguir, vemos o organograma da escola, com as especificações das funções de cada equipe (cursos). Há também um calendário escolar feito pelos professores para os dois ciclos semestrais dos cursos oferecidos. Todos os cursos possuem o turno da manhã e da tarde, com 12 alunos em cada turno.

O Centro de Formação possui independência de água (tem um poço artesiano de 57 metros de profundidade), energia (há um gerador próprio, movido a óleo) e internet (há um provedor próprio custeado pela cooperação brasileira). Atualmente está sendo completada a aquisição de materiais da sala dos docentes, que terá uma biblioteca, uma sala de reuniões, uma sala de televisão e banheiros. O prédio foi reformado por 25 ex-alunos timorenses e dois técnicos do Senai – SP.

Exemplo de dedicação e sucesso, o trabalho de Jones é admirável. E os 10 anos do do Centro de Formação Profissional em Timor-Leste mostram que a cooperação brasileira tem muito a ensinar e, quando Jones retornar ao Brasil, em julho, deixará um projeto erguido com muito suor e carinho.

Shirlei Mendes da Silva

de Díli, Timor-Leste

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