A professora e socióloga do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas (CCHJ) da Univates, Shirlei Mendes da Silva, foi selecionada para lecionar durante o ano letivo de 2012 na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). Ela envia notícias periódicas das atividades desenvolvidas nesse país.
Confira o último relato:
Escritos sobre Timor-Leste
Terminei a leitura do livro da jornalista brasileira Rosely Forganes: “Queimado queimado, mas agora nosso!”. Trata-se do relato de sua chegada ao Timor-Leste, em setembro de 1999, dias após a destruição efetuada pelas milícias indonésias sobre Díli, a capital do país.
Díli cheira a queimado, morte e destruição. A visão é alucinante… As ruas estão repletas de lixo, destroços, o cheiro é insuportável… Há cadáveres abandonados em pleno centro da cidade, a maioria carbonizados… Os correspondentes de guerra comentam que nunca viram algo assim, no Cambodja, o Khmer Vermelho deixou Phnom Penh deserta mas a cidade praticamente intacta. Mesmo em Beirute a destruição foi por setores. Mas uma cidade inteira queimada, ninguém se lembra de ter visto (Forganes, 2001:27).
Passados treze anos deste relato, Díli ainda apresenta vários prédios abandonados e queimados. Muitos deles, esperando pelo retorno de seus donos, que talvez não voltarão jamais. As marcas da destruição ainda aparecem aqui e acolá. E eu não canso de me perguntar como este povo convive com estas memórias. Outro dia, conversando com um timorense sobre isso, fui surpreendida com sua resposta: “Agora já passou, a ferida já cicatrizou. Temos que olhar para o futuro”. Parece que a sabedoria popular está sempre a nos surpreender…
Shirlei Ines Mendes da Silva
de Díli, Timor-Leste